2012-11-26

Exposição para um Altar




Arte sacra do Mestre José Rodrigues patente no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (rua Ferreira Borges — Porto), até ao dia 15 de janeiro de 2013.


Fonte: Jornal de Notícias

2012-11-21

O Estado Social na Semana Social

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A Semana Social 2012, que tinha escolhido para tema central, há quase dois anos, "Estado Social e Sociedade Solidária", caiu felizmente em cima de um importante debate na sociedade portuguesa.
A Igreja, que também somos nós reunidos nesta Semana Social, não terá nada mais a dizer no momento em que se debate a reformulação do Estado Social? Os princípios da solidariedade e da subsidiariedade, que norteiam a Doutrina Social da Igreja, como e em que é que inspiram este debate?
Tenho defendido o reforço tanto de um Estado mais sóbrio e inteligente, como de uma sociedade mais poderosa e solidária. O Estado não pode nem deve continuar a crescer para além do que é possível e razoável pagarmos, nem deve crescer em distância, anonimato, burocracia, ineficiência e ineficácia, em qualquer um dos domínios da sua intervenção; naqueles em que os cidadãos e as instituições autonomamente se organizam, devem ser estes e estas prioritariamente a conceber e resolver o necessário apoio social, sustentado na proximidade, no reconhecimento, na relação, na rapidez e na qualidade da resposta.
Precisamos de um Estado mais sóbrio, que entra apenas em subsidium (apoio) dos cidadãos e das suas organizações, visando sempre o seu empowerment. Quanto mais os cidadãos e as suas instituições forem livres, autónomos e responsáveis pelos seus destinos, melhor para a nação e para o Estado que a corporiza.
Fortalecer as instituições autónomas, destinadas a servir a "cidade" e verdadeiramente livres da intromissão do Estado, organizar e fortalecer a rede das pessoas e das organizações sociais que já apoiam os cidadãos e os encaminham para mais autonomia e mais responsabilidade, essa deveria constituir a prioridade de todos. A sociedade livre, autónoma, responsável e solidária que queremos continuar a construir deve ser, por isso, a principal preocupação do Estado.
Vivemos num contexto de grave crise social, não podemos continuar a responder sempre do mesmo modo aos apelos da vida e do mundo. Temos de ir mais ao fundo, porque esta crise tem sinais de que veio para durar, é internacional e vai provocar convulsões e conflitos com várias faces, que afectarão sobretudo os mais pobres, os mais frágeis e os que sofrem. A nossa atenção tem de redobrar! A luz que dizemos que levamos connosco tem de ser colocada em cima da mesa! Os pobres, os frágeis e os que sofrem são, de facto, o nosso critério de acção, o nosso foco e a nossa luz!
A caridade, de que alguns duvidam, em cima de um pedestal, é essencial para dar o pão a quem não o tem e a tranquilidade a quem sofre, em vez de cada um permanecer na sua verdade e prosseguir o seu caminho e a sua retórica, passando ao lado e virando a cara à pessoa aflita. A proximidade e a assistência imediata são, pois, fundamentais. Esse é um lugar donde não podemos sair, digam o que disserem.
A injustiça social que se esconde atrás da miséria exposta tem de ser combatida estrutural e radicalmente, aí mesmo na sua raíz, visando secar lentamente a fonte do seu mal. Temos visto crescer e agigantar-se uma economia que se subordina ao máximo lucro de poucos, quando se devia subordinar à promoção do bem comum e à promoção de uma vida decente para todos e para cada cidadão. É preciso mudar este rumo exclusivista e excludente da economia e da organização do trabalho. O desemprego de tantos é evitável e o trabalho para todos é possível, desde que organizemos crescentemente a sociedade segundo o valor da dignidade de cada pessoa e em torno de uma acção sociocomunitária e solidária.
Na economia e no trabalho, como em outras áreas, impõem-se vários combates sociais e políticos, nos mais variados campos da sociedade e do Estado. Vamos ter connosco, nesta Semana Social, várias iniciativas que caminham neste sentido, com determinação, uma pequeníssima amostra do tanto que já se faz por todo o país e pelo mundo. Há um desenvolvimento social novo que está a proliferar e que é preciso trazer à luz do dia: esse que não elege a economia como o centro da reflexão e da acção política, mas a pessoa, o rosto digno de cada pessoa; esse que se funda na cooperação entre os cidadãos e as suas organizações; esse que fortalece redes de entreajuda e recusa a exclusão social, em cada comunidade local; esse que promove todos os dias o empowerment daqueles que hoje não reúnem as condições de autonomia e responsabilidade, para que as alcancem quanto antes; esse que aposta na frugalidade e na sustentabilidade ambiental, combatendo o actual consumismo descabelado; esse que recusa o assistencialismo paternalista seja do Estado seja das organizações sociais solidárias; esse que percorre caminhos árduos de inovação social com a coragem dos navegadores; esse dos que promovem a paz e incentivam o silêncio, no meio do ruído mais ensudecedor; esse que aposta na participação dos cidadãos no espaço público, nas pequenas e nas grandes decisões, que incentiva e valoriza a democracia da deliberação e não apenas a democracia da representação.
Como cristãos, não passemos ao lado desta Semana Social. Participa e, se não puderes vir, envia o teu contributo para: rita.afonso@semanasocial.pt

2012-11-18

Estado social e sociedade solidária: que diz a Igreja?

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Se alguma coisa a Igreja Católica tem para dizer aos portugueses, para além de reafirmar que é ela que assegura, pela acção gratuita e comprometida dos seus crentes, que uma boa parte dos pobres e desempregados não caia no abismo, esta é um excelente oportunidade. As janelas da história não estão sempre escancaradas, raramente o estão, aliás. Vivemos na crista da onda de mudanças sérias e profundas.
A Semana Social de 2012, a decorrer no Porto, de 23 a 25 de Novembro [www.semanasocial.pt], constitui, pela sua dimensão nacional e pela presença quer dos movimentos e obras quer dos leigos mais comprometidos com as questões sociais do país, essa oportunidade de a Igreja dizer em que é que funda, aqui e agora, a sua esperança em dias diferentes e melhores, com mais justiça, dignidade e liberdade.
A controvérsia que se gerou em torno da caridade que os cristãos praticam, como se fosse um pecado contra a justiça social, requer que nos debrucemos com mais rigor e determinação sobre os sentidos da nossa presença cristã, hoje e aqui, no momento em que a sociedade portuguesa é desafiada a repensar o Estado e a sociedade.
Não basta repetir sempre a mesma conversa, de que somos os maiores em caridade e assistência social, pois já sabe a pouco. Também não sei se é justo e adequado ao tempo presente, deixarmos os bispos a falarem sozinhos sobre a crise que Portugal e a Europa vivem e sobre os modos de a ultrapassarmos. Somos nós, os cristãos comprometidos na polis, nos mais variados lugares e dos mais variados modos, que temos de tomar a palavra. Este tempo não é nada propício a meias respostas, meias tintas, palavrinhas redondas, seixinhos rolantes. Nem a esconderijos, mesmo que seja atrás da hierarquia, pois a luz que se acende nos nossos corações e, um pouco por todo o lado, na sociedade portuguesa tem de ser colocada em cima da mesa. É Cristo que quer falar e é o Espírito Santo que se está a manifestar dos mais variados modos e pelas mais diversas bocas.
O tema "Estado Social e Sociedade Solidária" foi escolhido há quase dois anos e não vem a reboque de nenhum apelo à "refundação" do Estado e da sociedade. Mas ainda bem que há esta espantosa "coincidência". Temos de fazer desta Jornada de reflexão um momento para tomarmos a palavra e dizermos: em que é que já não acreditamos, que caminhos têm de ser abandonados, em que é que acreditamos, o que é que nos mobiliza hoje no nosso quotidiano, nos mais variados campos da acção social e política.
A Doutrina Social da Igreja não é uma coisa de compêndios, embora eles existam e sejam úteis. É uma esperança que se faz acção, que sai das nossas mãos, que dá ritmo ao nosso coração e que, por isso, se vê nos olhos dos que estão desorientados, se sente nas mãos dos aflitos de todos os tipos, se percebe nos passos dos pobres e desempregados. Esta esperança tem a marca de uma sociedade mais justa e poderosa e de um Estado mais sóbrio e inteligente. E é sobre isso que é preciso vir ao Porto conversar e afirmar; não, não pode ficar para depois, porque já será tarde, as Semanas Sociais decorrem de três em três anos e Deus quer-nos aqui e agora a dizer, sem receios nem rodeios [não são só os dirigentes dos partidos políticos que estão aflitos quanto ao que dizer e fazer!] as razões da nossa fé e da nossa esperança.
É o próprio ser pessoa que está em questão, no nosso tempo, neste tempo de tempestade que poda, o tempo que nos é dado viver. Um tempo de extraordinária beleza, porque um tempo que abre uma extraordinária brecha para Deus e para o seu Amor. | Joaquim Azevedo

:: www.semanasocial.pt

2012-11-08





  
«A "Renascença Portuguesa" deseja dar uma finalidade à vida nacional. É preciso impedir a dissolução das vontades pela criação de um ideal colectivo, que seja ao mesmo tempo uma indubitável afirmação das eternas forças do espírito. Como criar esse ideal colectivo? Tem de ser, na lusitana forma da alma popular, à luz do que é eterno e absoluto - o homem como parcela do expírito activo, eficaz e criador. Só assim os homens encontrarão a verdadeira fonte de uma fraternidade espontânea»

Leonardo Coimbra

2012-11-04



«A agonia da Europa» foi publicada pela primeira vez em 1945, em Buenos Aires.
Nesta obra, reúnem-se quatro artigos escritos pela filósofa espanhola: «A agonia da Europa»; «A violência europeia»; «A esperança europeia» e «A destruição das formas».
Realce-se ainda o facto da obra ter sido corrigida pela autora, uma vez que a primeira edição surgiu com diversos erros, correções essas seguidas nesta edição.
Não terá sido alheio, à presente edição portuguesa, todo o contexto que se vive atualmente na Europa.
Ficam algumas passagens da obra.

«A genialidade da Europa parecia consistir, em grande parte, na capacidade de desatar as amarras da realidade. Agora tem tão pouca que considera real a primeira aparência (…). Porque o encontro com a verdade exige procura, que só pode acontecer num espírito que tenha sabido subtrair-se à esmagadora influência dos factos, ao carácter aterrador do imediato.»

«Este homem novo é o homem interior (…). A pessoa cristã (…) não tem limite, nem para as suas forças, nem para a sua vida, nem para a sua morte. Há algo no homem que transpõe e transcende tudo: ser homem é possuir esta interioridade inabarcável.»

María Zambrano, A agonia da Europa, Nova Vega, 2012.

2012-11-01


I

A morte na morte se termina.
E amamos na esperança que a alimenta
não a transparente ferramenta
mas a alma que passa e se ilumina.

Porque estarmos na morte nos designa.
E a própria virtude que a sustenta
nela se afirma e nos ensina
a iluminar também a ferramenta

por onde a alma se ilumina e passa.
E estar na morte segue o seu destino
de saber que por esta morte baça

ir à morte é lermo-nos num signo
que se acende somente, repentino,
quando lermos é lido em obra e graça.

Fernando Echevarría, Media Vita [1979]