2013-05-21

Sair de Portugal, uma oportunidade para Portugal?

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Todos conhecemos, uns mais e melhor que outros, o drama da emigração a que muitos milhares de portugueses estão a ser condenados. Estas vagas migratórias têm sido recorrentes na nossa história comum, envolvendo pais e avós de muitos dos jovens que hoje se vêem forçados a emigrar.
Mas esta nova vaga apresenta algumas caraterísticas novas: (i) ela dá-se num mundo muito mais globalizado e numa economia muito internacionalizada e interdependente; (ii) este mundo está impregnado de novas tecnologias e novos hábitos de comunicação e informação que o tornam muito mais pequeno; (iii) a geração que hoje emigra é muito mais qualificada, registando-se mesmo uma fuga de "cérebros", nos quais o país investiu e muito; (iv) esta geração não se desloca para os destinos históricos tradicionais, mas espalha-se por todo o mundo; (v) Portugal atravessa uma grave crise social e económica, com todos os problemas e desafios que isso mesmo coloca.
Estas características novas devem levar-nos a mudar os referenciais com que pensamos e perspectivamos esta nova vaga emigratória e os seus impactos. Portugal sempre foi maior do que o seu tamanho. As suas gentes e a sua cultura há muitos séculos que se espalharam pela diáspora. Hoje, a dispersão de muitos portugueses muito qualificados pelo mundo amplia a nossa dimensão, ou seja, somos ainda maiores e estamos ainda mais espalhados por todo o mundo. O maior drama desta nova vaga emigratória consiste em a pensarmos como sendo apenas mais uma ou apenas como mais um mal que nos está a acontecer, entre tantos que todos os dias nos invadem, como se o país e o mundo não tivessem mudado.
Uma boa parte dos negócios, hoje, está a ser fortemente influenciada pela economia aberta e globalizada. Inadvertidamente podemos estar a gerar uma nova rede global de portugueses presentes em todo o mundo, capazes de se ligarem entre si, aptos a ligarem o de lá com o de cá e o de cá com o de lá; ou seja, uma rede que qualquer programa governamental seria incapaz de promover, está aí potencialmente ativa. Faltam-nos, eu sei, vários requisitos para fazer funcionar esta rede, em nosso benefício, desde logo ela surge marcada por essa revolta com o país que obrigou os seus membros a emigrar. Mas uma intervenção subtil e inteligente, envolvendo sectores como a economia, o emprego, a ciência, a educação, os negócios estrangeiros e a diplomacia económica, com uma visão de médio e longe prazo, poderia transformar uma fraqueza numa enorme força.
Afinal, falta fazer o mais fácil. Pelo mundo já estamos, à custa do sacrifício de tantos, muitos dos melhores já partiram ou estão a partir, estamos a descobrir que os nossos recursos económicos internos são muito escassos e que não queremos regredir, já há casos de sucesso de ligações virtuosas entre os portugueses dispersos e, ao fim e ao resto, só estando por todo o mundo somos iguais a nós mesmos. A nossa dimensão real está alcançada, só falta fazer da dispersão uma força maior e ainda por cima o modelo económico está a jogar do nosso lado.
Coragem! | Joaquim Azevedo