2012-12-12

Compaixão

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© Omar Cleunam


Na História do rei transparente, de Rosa Montero, surge este diálogo comovente e profundo:

"- Continuas a escrever o teu livro de palavras?
A pergunta de Nyneve surpreende-me. Endireito-me e olho para ela. A minha amiga, que também está a trabalhar na horta, descansa apoiada na enxada.
- Sim, porquê?
- Porque te queria oferecer uma palavra. A melhor de todas.
- Ah, sim? Qual é?
- Compaixão. Que, como sabes, é a capacidade de nos colocarmos na pele do próximo e de com ele sentir o que ele sente.
- Sim, agrada-me. Mas porque é que me dizes que é a melhor?
- Porque é a única das grandes palavras em nome da qual não ferimos, não torturamos, não prendemos e não matamos... Pelo contrário, evita tudo isso. Há outras palavras muito belas: amor, liberdade, honra, justiça,... Mas todas elas, todas, podem ser manipuladas, podem ser utilizadas como armas de arremesso e causar vítimas. Por amor ao seu Deus, os cruzados acendem piras e, por um amor aberrante, os amantes ciumentos matam as suas amadas. Os nobres maltratam e abusam barbaramente dos seus servos em nome de uma hipotética honra; a liberdade de uns pode significar a prisão e morte para outros e, quanto à justiça, todos julgam tê-la do seu lado, mesmo os tiranos mais cruéis. Só a compaixão impede estes excessos; é uma ideia que não pode impor-se aos outros a ferro e fogo, porque nos obriga a fazer justamente o contrário. Obriga-nos a aproximarmo-nos dos outros, a sentir o que sentem e a compreendê-los…Lembra-te desta palavra, minha Leola. E, quando te lembrares, pensa também um pouco em mim."