2012-11-18

Estado social e sociedade solidária: que diz a Igreja?

.


Se alguma coisa a Igreja Católica tem para dizer aos portugueses, para além de reafirmar que é ela que assegura, pela acção gratuita e comprometida dos seus crentes, que uma boa parte dos pobres e desempregados não caia no abismo, esta é um excelente oportunidade. As janelas da história não estão sempre escancaradas, raramente o estão, aliás. Vivemos na crista da onda de mudanças sérias e profundas.
A Semana Social de 2012, a decorrer no Porto, de 23 a 25 de Novembro [www.semanasocial.pt], constitui, pela sua dimensão nacional e pela presença quer dos movimentos e obras quer dos leigos mais comprometidos com as questões sociais do país, essa oportunidade de a Igreja dizer em que é que funda, aqui e agora, a sua esperança em dias diferentes e melhores, com mais justiça, dignidade e liberdade.
A controvérsia que se gerou em torno da caridade que os cristãos praticam, como se fosse um pecado contra a justiça social, requer que nos debrucemos com mais rigor e determinação sobre os sentidos da nossa presença cristã, hoje e aqui, no momento em que a sociedade portuguesa é desafiada a repensar o Estado e a sociedade.
Não basta repetir sempre a mesma conversa, de que somos os maiores em caridade e assistência social, pois já sabe a pouco. Também não sei se é justo e adequado ao tempo presente, deixarmos os bispos a falarem sozinhos sobre a crise que Portugal e a Europa vivem e sobre os modos de a ultrapassarmos. Somos nós, os cristãos comprometidos na polis, nos mais variados lugares e dos mais variados modos, que temos de tomar a palavra. Este tempo não é nada propício a meias respostas, meias tintas, palavrinhas redondas, seixinhos rolantes. Nem a esconderijos, mesmo que seja atrás da hierarquia, pois a luz que se acende nos nossos corações e, um pouco por todo o lado, na sociedade portuguesa tem de ser colocada em cima da mesa. É Cristo que quer falar e é o Espírito Santo que se está a manifestar dos mais variados modos e pelas mais diversas bocas.
O tema "Estado Social e Sociedade Solidária" foi escolhido há quase dois anos e não vem a reboque de nenhum apelo à "refundação" do Estado e da sociedade. Mas ainda bem que há esta espantosa "coincidência". Temos de fazer desta Jornada de reflexão um momento para tomarmos a palavra e dizermos: em que é que já não acreditamos, que caminhos têm de ser abandonados, em que é que acreditamos, o que é que nos mobiliza hoje no nosso quotidiano, nos mais variados campos da acção social e política.
A Doutrina Social da Igreja não é uma coisa de compêndios, embora eles existam e sejam úteis. É uma esperança que se faz acção, que sai das nossas mãos, que dá ritmo ao nosso coração e que, por isso, se vê nos olhos dos que estão desorientados, se sente nas mãos dos aflitos de todos os tipos, se percebe nos passos dos pobres e desempregados. Esta esperança tem a marca de uma sociedade mais justa e poderosa e de um Estado mais sóbrio e inteligente. E é sobre isso que é preciso vir ao Porto conversar e afirmar; não, não pode ficar para depois, porque já será tarde, as Semanas Sociais decorrem de três em três anos e Deus quer-nos aqui e agora a dizer, sem receios nem rodeios [não são só os dirigentes dos partidos políticos que estão aflitos quanto ao que dizer e fazer!] as razões da nossa fé e da nossa esperança.
É o próprio ser pessoa que está em questão, no nosso tempo, neste tempo de tempestade que poda, o tempo que nos é dado viver. Um tempo de extraordinária beleza, porque um tempo que abre uma extraordinária brecha para Deus e para o seu Amor. | Joaquim Azevedo

:: www.semanasocial.pt